sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Meninas estranhas e a arte de se apaixonar por si mesma



A minha vida toda sonhei em encontrar o meu grande amor, a minha alma gêmea. Quando era adolescente, eu e minhas amigas fazíamos listas mentais de todas as características desejáveis e indesejáveis do homem dos nossos sonhos. "Alto, musculoso - mas não musculoso demais - com olhos bonitos e dentes perfeitos! Ah, e claro, ele se veste muito bem." Ou: "Tem cabelo cacheado e olhos verdes, porque eu quero que meus filhos tenham cabelo cacheado e olhos verdes." Ah, e claro: "Ele é inteligente, engraçado, e eu sou a pessoa mais importante da vida dele." 
Nós sabíamos muito bem o que queríamos. E acreditávamos que tudo aquilo que a gente pedia num homem era completamente razoável e normal. Sim, esse homem, do jeitinho que a gente queria, exisitia em algum lugar e encontrá-lo era certo. Ponto final.

Com o tempo encontramos rapazes e namoramos, ou saímos em alguns encontros casuais, e percebemos que não é bem assim como pensávamos. Aquela ideia geral do amor e das pessoas acaba se modificando, e logo começamos a escutar o que as mulheres mais velhas dizem. Que nós somos muito exigentes. Que o príncipe encantado, do jeito que queríamos, não existe. Que se continuarmos sonhando desse jeito, ficaríamos sozinhas para sempre. E algumas de nós acabam chegando à conclusão que essas mulheres mais experientes têm razão - e dá próxima vez que encontrarem um rapaz que não é um completo idiota elas resolvem deixar as "ilusões" de menina para trás e aceitar um namoro com um homem que talvez não é como sonhavam, mas é legal o suficiente.


Mas algumas de nós são teimosas. Algumas de nós talvez têm as cabeças nas nuvens, mas por mais que sonhamos, nós sabemos o que queremos. Algumas de nós talvez vão ficar sozinhas por um bom tempo, sim. Mas não porque ninguém "nos quer", como algumas pessoas gostam de dizer - mas porque nós não aceitamos menos do que merecemos. Eu digo uma coisa para você, para mim mesma, e para qualquer amiga que eu tenho: Nós merecemos o amor dos nossos sonhos. Existem homens do jeito que você sempre sonhou - e um dia você vai conhecê-lo. 
Mulheres às vezes se sentem pressionadas a estarem namorando, pois uma mulher solteira ainda tem um outro status social que um homem solteiro. Acabamos optando por namorar com um cara mais ou menos legal, que não é "lá essas coisas", mas temos talvez receio de deixá-lo ir para depois nos arrependermos. 

"Eu não acho que nós somos o problema. Acho que são os homens de hoje."
Eu sei bem disso. Eu sempre fui a menina "difícil", que é uma maneira estranha de dizer que eu sempre soube muito bem quem eu sou e que tipo de homem que eu gosto (ou não). Sempre ouvi de outras pessoas que eu era exigente demais - ou chata demais, dependendo da pessoa. E sabe de uma coisa? Eu sou chata mesmo. Eu sou exigente pra caramba! Até para escolher um creme pro rosto eu escolho horrores - imagina então para ter um compromisso com alguém. Tem que ser uma pessoa muito legal para eu alterar a minha rotina e encaixá-lo no meio da minha vida corrida.

Já me senti culpada algumas vezes por não ter continuado a me encontrar com certos rapazes, porque escutava os comentários de que eu ficaria sozinha pelo resto da minha vida. E alguns dos rapazes talvez até eram legais, mas no fundo eu sabia que não combinavam comigo. Isso não tem a ver com arrogância ou futilidade - isso é simplesmente o que acontece quando você tem amor próprio e sabe quem você é.

"Garotas estranhas. Elas conseguem casar como outras garotas? Conseguem ter filhos? Conseguem ser felizes do jeito que sao? Porque elas nasceram?" - tradução livre
Mas mesmo assim, ficar sozinha não é exatamente o que queremos, né? Então como muitas outras mulheres da minha geração, instalei alguns aplicativos de namoro depois de algumas amigas sugerirem que isso é divertido. Bom, divertido eu não achei não. Small talk, aquelas conversas forçadas, são um saco e eu não curto muito ficar falando da minha vida pessoal com estranhos. Pouquíssimos sabem realmente puxar uma conversa. Existem pessoas que gostam desse tipo de coisa - conseguem se divertir com o Tinder. Tenho amigas que estão nesse aplicativo e já saíram com vários homens e fizeram até algumas amizades através do aplicativo. Eu acho maravilhoso ver como a tecnologia consegue realmente unir as pessoas e adoro ler aquelas histórias lindas onde algum casal se conheceu na internet ou no Tinder e acabaram casando.
Mas para mim, o Tinder não deu certo. Acho que as pessoas nesse aplicativo ainda têm uma visão bastante imatura sobre relacionamentos e amor. Sabe o que eu mencionei no primeiro parágrafo - que eu e minhas amigas adolescentes tinhamos uma visão certa do nosso homem ideal? As pessoas no Tinder e as minhas amigas que o usam parecem estarem presas a isso até hoje. Quando me perguntavam: "O que você faz? Qual o seu trabalho?" ou "O que você gosta de fazer no seu tempo livre?", me dava vontade se desinstalar o aplicativo na hora. Porque sinceramente, qual a real importância disso? Você vai escolher um parceiro baseado na profissão e nos "hobbies" dele? Porque não fazer perguntas que realmente importam?

O que uma pessoa faz, o que ela estudou, o que tipo de esporte ela pratica - isso não define a pessoa. Teve um homem que me escreveu uma lista de perguntas, do tipo "você é atlética? Pratica esporte? Faz o quê?" e realmente parecia uma pessoa que tem uma visão bem detalhada de como a sua futura namorada deve ser. Assim como as minhas amigas às vezes comentam - "Conheci um cara legal, mas ele é recepcionista de um hotel..." e "Eu saí com um rapaz, mas ele é muito nerd, ele gosta de Star Wars e essas coisas." ou "Não estou mais a fim daquele cara, ela usa roupa apertada e anéis."
Tudo bem que existem pessoas que têm características muito incompatíveis com a nossa personalidade. Mas para você perceber isso não adianta sair somente uma vez com a pessoa. Tinder é fast dating, o equivalente de fast food. Rápido, prático, feito para satisfazer e pronto. E por mais que muitas pessoas realmente consigam encontrar gente interessante através do Tinder, para mim é oco demais.
"Só me envolvo com pessoas que acho intelectualmente estimulantes."
Claro que eu também gostaria de conhecer um cara que é bem sucedido - que é um empresário, ou advogado ou sei lá, alguma coisa estável. Mas eu não me fecho perante a possibilidade de encontrar um músico falido, ou um professor de ciências ou sei lá, um cowboy. Eu não sei o que a vida preparou para mim e estou aberta para surpresas. Pode ser que na minha visão a melhor opção para o meu futuro marido seja um homem rico com um emprego impressionante - mas talvez o verdadeiro amor da minha vida é um artista sem dinheiro. Talvez é essa pessoa que vai ter uma conexã profunda e espritiual comigo, e não o cara que deu certo na vida.

Eu tenho apenas 26 anos de idade mas aprendi uma coisa: a vida é curta e preciosa demais para perdermos tempo com tudo aquilo que não nos faz feliz e que não nos enriquece. E quando digo enriquecer, é num sentido mais amplo do que valor material. Antigamente eu pensava que eu precisava de vários amigos, várias pessoas para preencherem um vazio dentro de mim. Com o tempo eu descobri que o que faltava era o amor próprio - compaixão, carinho e paciência comigo mesma. Hoje eu não me forço mais a ter amizades com pessoas que não me fazem feliz. Eu não me forço mais a ser de um jeito que agrada as pessoas. Não me forço a ir para lugares quando não estou a fim. Hoje eu olho para mim e vejo a pessoa que eu realmente sou e eu cuido de mim como eu mereço ser cuidada. Eu não preciso de vários amigos - só de alguns poucos que me entendem, que me trazem uma energia boa. A mesma coisa vale para um homem: tem que combinar. Se não combinar, não quero. E é isso que traz liberdade. Sinceramente? As pessoas têm medo de mulheres com auto estima saudável. Amor próprio em meninas parece ser ameaçador. Quem tiver medo, que corra então.


Não precisamos nos forçar a sermos do jeito certo. Um dia todas as peças vão se encaixar. No meu caso, eu dou graças ao Universo por tudo ter se encaixado - de um jeito que ainda deixou espaço para aventuras, lutas e vitórias (pois ninguém gosta de uma vida 100% certinha!). Mas eu queria muito fazer as minhas amigas verem isso também. Eu queria que elas entendessem o quanto elas são maravilhosas, especiais, merecedoras de um amor dos sonhos. Eu queria que todo mundo conseguisse ver isso.

Eu resolvi desinstalar o Tinder e deixar o fast dating pra lá. Tentei, não gostei. E todas as vezes que uma das minhas amigas ficam tristes ou inseguras por causa de um encontro com um rapaz, eu queria dizer que talvez elas precisam deixar a lista mental do homem "perfeito" de lado; que talvez elas precisam primeiro pensar nelas e viverem sua vida e se fazerem felizes antes de pensar num relacionamento. Talvez elas precisam aprender a confiar mais na vida, e a entender que nem tudo que queremos é realmente bom para nós. Que às vezes a vida tem planos que primeiro possam parecerem confusos e assustadores mas que no final trazem mais felicidade que a gente jamais imaginava alcançar. Mas tudo isso temos que aprender e enxergar sozinhas.
Estranhas ou não, todas meninas mais cedo ou mais tarde descobrem que o amor está mais perto do que elas imaginavam. O amor da sua vida, irmã, é você.


*Escrevi isso em 2017, mas achei que deveria publicar :)
Beijos,
Ju