Faz muito tempo que nao posto nada nesse blog mas continuo recebendo várias visualizações e comentários na resenha do seriado The Rise of Phoenix – então, resolvi escrever algumas novas resenhas sobre alguns seriados chineses que assisti nos últimos tempos. Também assisto muitos seriados coreanos, entao talvez eu posso fazer resenhas sobre alguns também.
Vou começar pelo seriado The Legends
Apesar de que eu adoro histórias de fantasia, eu não
tinha assistido nenhum seriado do gênero Xianxia ainda, pois é bem diferente para
mim. O gênero Xianxia mistura alguns elementos da mitologia chinesa com taoísmo,
artes marciais, medicina tradicional chinesa, budismo, e outros. Os personagens
têm poderes – que é energia (Qi) e eles são chamados de cultivadores – e fazem
parte de “seitas” ou tribos diferentes, que tem formas diferentes de usar esses
poderes/energia que eles cultivam através de treinos e meditação.
De certa forma, é bem interessante pois mistura
fantasia com algo que na cultura chinesa (e asiata) é realmente real, que é a
questão da energia Qi que flui dentro das pessoas (essa crença também existe em
outras culturas asiáticas, como por exemplo na Ìndia, mas com outro nome).
Então, quando você assiste um seriado desse gênero,
prepare-se para ver as pessoas voando, lutando bastante e falando sempre de
energia.
Eu assisti The Legends pois eu vi a foto da personagem
principal feminina no Instagram e fiquei curiosa. Uma mulher vestida de
vermelho, com um sorriso cínico, parecendo uma deusa malvada – me chamou a
atenção e eu resolvi dar uma chance a esse novo gênero.
Recomendo esse seriado para quem gosta de:
- Personagens femininos vilãs
- Ships de amor-ódio
- Fantasias bem diferentes
- Histórias com fantasmas
- Comédia e ação
A trama:
A trama é baseada num livro (web-novel) que fez
bastante sucesso na China e tem uma duração de 55 episódios.
A história é focada na líder de uma seita demoníaca, Zhao Yhao, que apesar de ser uma mulher temida e violenta, morre subitamente durante a tentativa de conquistar uma espada mágica poderosa. Além de morrer de uma forma insatisfatória, ela descobre que um dos seus seguidores mais leais a traiu e tomou o lugar de líder da seita dela – e ainda por cima, ele, Li Chen Lan, está transformando a seita dela em um lugar muito harmônico para o gosto dela. Zhao Yhao, que agora apenas existe como fantasma, decide se vingar e matar esse traidor – e ela recebe ajuda de uma jovem fugitiva que quer se juntar a antiga seita de Zhao Yhao.
Usando a atração que o Li Chen Lan sente por ela, Zhao Yhao resolve seduzi-lo para tirá-lo do poder e tomar de volta a seita que ela fundou. Porém, Li Chen Lan parece ser diferente do que Zhao Yhao pensa – e ela aos poucos descobre a verdade por trás da morte dela.
Caso você ainda não viu o seriado e quer evitar
spoilers, melhor não continuar lendo. Aqui vai a minha resenha:
Os pontos fortes do seriado The Legends:
Uma história diferente e única
Eu já assisti inúmeros seriados, mas a trama da The
Legends realmente me divertiu e me surpreendeu, principalmente a primeira
parte.
Primeiro, porque a personagem principal não é uma
heroína comum – ela é vilã e por cima de tudo, ela é orgulhosa de ser malvada e
temida por todos. Essa anti-heroína também é bem arrogante e cheia de si, mas
mesmo assim ela acaba sendo simpática e cativante.
O desejo dela é de acabar com o grande traidor Li Chen Lan (que também tem um segundo nome, Mo Qing), mas a forma que ela tenta alcançar isso é através de sedução e jogo de charme – o que torna a história muito divertida.
O grande objetivo dela é simplesmente se vingar – e o
fato de que ela está morta e apenas existe como fantasma deixa tudo mais
complicado e engraçado.
No primeiro momento, você pode imaginar que o seriado
é uma comédia, mas a história dela e do Li Chen Lan se torna mais e mais
emocionante, tornando a trama em algo mais profundo do que esperado.
Além disso, há um questionamento do tipicamente “bom”
e do tipicamente “ruim” – o que é ser bom e o que é ser malvado? Através dos
acontecimentos, eles mostram o perigo do preconceito, de ser neutro e de
guardar sentimentos negativos dentro de si.
Ponto Forte 2: A personagem Zhao Yao
Para o meu gosto, achei Zhao Yao uma personagem muito bem feita. Eu gostei do desenvolvimento do caráter dela: inicialmente ela é ingênua e quer impressionar o crush dela; depois da grande dor que ele causa nela, ela resolve se tornar o contrário daquilo que ele acha certo: malvada. Ela é ambiciosa e arrogante, e quer conquistar o mundo. Depois que ela morre, ela continua arrogante e ambiciosa, mas tem que aceitar que não é mais tão forte quanto antes e por isso, tem que fazer uso de táticas diferentes, como por exemplo se juntar com uma garota fraca e inexperiente. Porém, Zhao Yao acaba pouco a pouco mostrando que por trás de toda a extravagancia e bravura, ela esconde um coração grande.
Zhao Yao não age de forma idiota como algumas outras heroínas – ela sempre tem
um objetivo e calcula tudo, mas às vezes, ela acaba cedendo e ajudando. Não por
ser burra, mas por ter compaixão.
Depois que Zhao Yao se apaixona por Mo Qing/Li Chen Lan, vemos mais uma etapa do desenvolvimento pessoal dela: antes, ela queria ser a dona do mundo e estar no comando, no topo; mas depois de ver com os próprios olhos que Li Chen Lan tem talento para liderar a seita dela, e faz o papel dele bem feito, ela resolve que quer compartilhar a liderança da seita com ele. Isso não é em nenhum momento encorajado por Li Chen Lan, que não tem ambição, mas é uma decisão que ela fez com a cabeça clara, após ver que ele faz o trabalho até melhor que ela.
Ela se torna mais madura e estável, e demonstra um comportamento de uma mulher
que sabe valorizar as pessoas na sua vida.
Não é um caso de uma mulher deixar o homem ser mais importante ou tomar o lugar
dela, mas realmente de duas pessoas viverem de igual para igual juntos e se
respeitarem e se amarem honestamente.
Portanto, eu achei o desenvolvimento da personagem muito legal de assistir.
Ponto Forte 3: Li Chen Lan
Li Chen Lan, ou Mo Qing, também é um personagem diferente: não é um “bad boy” de coração frio que pouco a pouco se apaixona pela heroína, como em inúmeros seriados; ele também não é um mocinho que quer salvar o mundo. Ele tem uma história trágica, e foi salvo por Zhao Yao, e nunca esqueceu isso. Apesar de Zhao Yao não demonstrar interesse por ele, ele sempre manteve uma forte lealdade a ela, porém, foi incapaz de evitar a magia da espada do pai dele, o que resultou na morte da mulher que ele amava em segredo.
Ele passou anos somente tentando fazer a visão de Zhao Yao se tornar realidade:
ele não quis ser o líder, mas quis realizar o sonho de Zhao Yao, já que ela não
era mais capaz disso.
Apesar de todos pensarem que ele é o filho do Rei Demonio, ele é gentil, calmo
e justo. Ele nunca foi ambicioso, ganancioso ou possessivo. É uma grande ironia
que justamente o rapaz mais gentil é visto como o grande malvado, só por causa
do pai dele.
Ele é uma pessoa mal-entendida e extremamente
solitário, vivendo só para manter o desejo de Zhao Yao de tornar a seita dela a
maior e melhor do mundo.
Em comparação à Zhao Yao, ele teve o desenvolvimento de caráter mais cedo, e não muda tanto durante a trama, o que é a qualidade dele: ele é leal e nada fará com que ele abandonasse Zhao Yao, só o demônio interior dele mais para o final – porém, essa parte da trama foi mal desenvolvida com o final muito brusco e rápido.
Outro ponto forte: A história de amor
O amor dos dois é muito saudável e adorei essa representação
de um relacionamento baseado em respeito e amor. Não há mal-entendidos entre
eles como em outros seriados acontece, pois os dois (quando juntos) comunicam
tudo e se respeitam.
Li Chen Lan e Zhao Yao se veem de igual para igual. Quando Zhao Yao decide algo, Li Chen Lan respeita, mesmo quando ele não está de acordo (por ser arriscado pra ela). Até mesmo quando Li Chen Lan vê que Zhao Yao está trocando cartas com um outro cara (antes dos dois estarem juntos), ele fica sim com ciúmes, mas não chega a interferir e deixa ela fazer (– até o ponto do cara querer se encontrar com ela, aí ele resolve interferir, já que ele também nao é um idiota! Rsrs). Apesar de Li Chen Lan ler as cartas, ele faz isso para poder se proteger, já que os dois estavam armando contra ele.
A questão do colar que consegue vigiar Zhao Yao também é usado por ele para
saber o que ela está aprontando, já que ela estava querendo matá-lo e ele sabia
disso.
Ele sabia sempre que ela o odiava (no início) e deixava ela à vontade, armando
contra ele. Tadinho! Que bom que no final ele conseguiu conquistar o amor dela.
Depois, quando ele está com o problema do demônio interior, os dois enfrentam isso juntos, como eles fazem com todos os problemas. Eu gostei muito disso, pois geralmente, em seriados passamos a trama inteira torcendo para o casal ficar junto, o que acontece muitas vezes só bem no final, ou é interrompido por mal-entendidos chatos. É raro ter uma história em que o casal fica junto e passa o resto da história sem mal-entendidos, enfrentando tudo juntos – e mesmo assim não perdendo a graça. Não sei se foi a química dos atores, ou a dinâmica diferente dos dois personagens, mas aqui deu certo e gostei muito da história de amor.
Ah, e diferentemente de muitos outros seriados chineses (e coreanos), em The Legends temos várias cenas de beijo do casal, e os beijos são bem naturais!
Feminismo
O seriado toca em alguns assuntos feministas que eu
adorei! Tem um momento que Zhao Yhao fala sobre o fato de que homens querem
mulheres que sejam mais “fracas” do que eles, e que eles não querem ficar com
alguém como ela, que é uma pessoa forte, pois eles não querem alguém que os faz
sentir inferiores. Um assunto extremamente importante, já que na nossa
sociedade muitas mulheres que têm personalidade forte tem dificuldade de se
relacionarem com homens por que eles se sentem ameaçados pela forca delas.
Li Chen Lan e Zhao Yao são o extremo contrário disso:
ele ama ela e não vê o poder e a inteligência dela como ameaça à inteligência dele.
Eles estão de igual para igual.
Também é tratado com naturalidade que mulheres sejam líderes, chefe dos guardas e soldadas, fortes e inteligentes. Como em nenhum seriado chines, não há cenas de estupro, ou violência contra mulheres.
A amizade entre Zhao Yao e Qin Zhiyan
As duas são o oposto da outra – enquanto Zhiyan cresceu protegida na seita dos “bons” e nunca teve que lutar pela sua vida, Zhao Yao é a famosa “demônia” que não tem medo de ninguém. Inicialmente, eles não gostam uma da outra mas com o tempo se tornam grandes amigas e sempre estão se ajudando. Adorei todas as interações entre as duas, e gostei como ambas conseguiram aprender algo da outra.
Pontos fracos:
Muita enrolação de cenas desnecessárias
Acredito que deve ter algum acordo com os atores, para
alguns dos personagens secundários receberem bastante cenas, pois muitas,
muitas cenas eram completamente desnecessárias para a trama, mas mesmo assim
faziam parte, o que resultou em o próprio casal principal ter menos cenas
juntos. Já que obviamente o público queria ver o casal e não todos aqueles
outros personagens o tempo todo, eu só consigo imaginar que existe algum tipo
de acordo para todos receberem um bom tempo de “screen time” (tempo de cenas).
Eu pulei muitas cenas e mesmo assim conseguia entender tudo, pois muitas mostravam
informações que já sabíamos, então não era tão importante.
Além disso, eu não me importei muito com as histórias de alguns personagens
secundários, então eu pulava sem dor.
Final muito mal feito
Apesar de ter um final feliz, os últimos episódios
foram muito mal feitos e rápidos, não conseguiram contar tudo com clareza e
poderia ter sido feito de uma maneira muito melhor.
Porém, eu já me acostumei que os seriados chineses
muitas vezes tem finais mal feitos, então eu nem fico mais tão chateada.
Efeitos especiais mal feitos
Dá para perceber que o orçamento não devia ser muito
alto, então a produção é bem fraca e os efeitos especiais também não se
comparam à produções ocidentais.
***
Mesmo com os pontos fracos, eu adorei o seriado e
gostaria de encontrar mais histórias parecidas com The Legends.
Você já assistiu esse seriado? Está disponível no Viki com legendas em português.
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